Fé Persuadida

06.06.2022

Lourdes.

O programa do Colóquio da ReliMM - A Religião nas Múltiplas Modernidades, 30 de Junho a 1 de Julho no Instituto de Sociologia da Universidade do Porto já é público. Participo no painel “Religião, Imagem, Arquitetura e Comunicação”, moderado por Alex Villas Boas. A minha comunicação tem o título: “Fé Persuadida: Uma Leitura Teológica de Lourdes (2009)”. Eis o resumo:

Como uma das três virtudes teologais, a fé (fidei) é concebida na teologia cristã como infundida em vez de adquirida. Tal como a esperança (spes) e a caridade (caritas), a fé tem Deus como origem, motivo, e objecto. O entendimento teológico é o de que, através dela, os seres humanos podem unir-se a Deus e participar ativamente na vida divina trinitária. Mas, para São Tomás de Aquino, mesmo uma virtude infundida — isto é, causada por Deus sem a nossa ação —, necessita do nosso consentimento para ser eficaz e produzir efeito. Esta comunicação apresenta uma leitura teológica do filme Lourdes (2009), realizado por Jessica Hausner, que permite desenvolver estas reflexões, porque se trata de um exemplo significativo de representação da fé como virtude teologal no cinema contemporâneo. A narrativa segue uma jovem chamada Christine (Sylvie Testud), que sofre de esclerose múltipla grave, numa peregrinação católica ao Santuário de Nossa Senhora de Lourdes em França. O percurso da personagem em torno da sua possível cura, os seus momentos de meditação, as suas interações com outras personagens, mostram a fé humanamente vivida, oscilando entre a incerteza e a confiança. O consentimento humano decide-se nesta oscilação, que a obra associa à possibilidade de persuasão.