A Vertigem da Forma

01.04.2020


O Couraçado Potemkine.

Nas suas formulações teóricas como nas suas obras cinematográficas, Sergei Eisenstein contrapôs vigorosamente a geometria das formas visuais às dimensões dos referentes reais. O plano surge como elemento desagregador do real que constrói uma unidade própria. Daí que o cineasta soviético tenha descrito o plano como célula de montagem. O processo de montagem não é uma mera síntese, mas uma densa composição criativa. Os elementos estruturais dos fenómenos representados são usados para a construção orgânica do filme. Analisando alguns desenhos da série Carceri de Giovanni Battista Piranesi, Eisenstein comparou a composição arquitectónica à montagem cinematográfica, como um fluxo formal com o potencial de uma explosão sucessiva. Se o espaço arquitectónico pode ser um vertiginoso jogo com a gravidade, Eisenstein utilizou a montagem como uma forma de composição-decomposição-recomposição trepidante de espaços. Cenas como a do massacre na escadaria de Odessa em O Couraçado Potemkine (Bronenosets Potyomkin, 1925) recuperam princípios de montagem em parte descobertos na própria arquitectura, entre o olhar arquitectónico (o movimento do espectador no interior de um objecto fixo) e o olhar cinematográfico (a imobilidade do espectador face à mudança das posições de câmara).