O IX Encontro Anual da AIM começa oficialmente no dia 13 e prolonga-se até ao dia 16 deste mês. A comunicação que vou apresentar neste encontro tem o título “Um Corpo Vivo: Corporeidade e Amor em Ida”. Eis o resumo:
Ida (2013) é aqui analisado cruzando os estudos fílmicos e a teologia. Este filme polaco narra a estória de uma noviça chamada Ida em 1962. Ela sai pela primeira vez do convento para conhecer a tia, uma juíza caída em desgraça depois do período estalinista, e descobrir que a sua mãe e o seu pai eram judeus e foram mortos durante a ocupação nazi. A minha leitura teológica chama a atenção para o modo como as descobertas sobre o passado da protagonista e do país envolvem experiências novas na vida dela. São experiências que ela não teve porque viveu isolada do resto do mundo num ambiente religioso. Há nelas uma tensão entre as dimensões social e individual, física e espiritual, que torna o trajecto dela num caminho de discernimento pessoal marcado pelo fundamento do amor. Em De Trinitate, Agostinho lembra que Deus só é visível para quem ama. A corporeidade é central neste percurso desde a primeira cena, em que Ida retoca a pintura de uma estátua de Cristo quase da sua estatura que, a espaços, pontua o filme como uma presença que a acompanha e interpela. Como a luta de Jacob com Deus (Gen 32,22-32), a de Ida será feita corpo a corpo — ao contacto com a estátua podemos acrescentar a recolha dos ossos dos seus progenitores e o encontro sexual com um saxofonista. Estes momentos vão fazendo o seu corpo mais vivo, a sua vida mais intensa, mais participante na natureza divina e mais animada pelo amor divino. No fim, a câmara fixa torna-se móvel para acompanhar a sua determinação.