Imagens Psíquicas

02.01.2019


Veludo Azul.


Estrada Perdida.

No cinema surrealista de David Lynch, a figuração sofre uma distorção, muitas vezes relacionada com o interesse que o cineasta tem na psique humana. A inquietação da famosa cena de Veludo Azul (Blue Velvet, 1986) não vem apenas do que nela se passa — o desvelamento do mundo sórdido onde Dorothy (Isabella Rossellini) vive em desespero —, mas da sua ambiguidade, como se o gesto de desvelar fosse afinal o de colocar outro véu. Jeffrey (Kyle MacLachlan) vê Dorothy (e o filme mostra o que ele vê) de dentro de um roupeiro como se fosse uma alucinação. Já em Estrada Perdida (Lost Highway, 1997), a torção de um corredor espelha a esquizofrenia de Pete Dayton (Balthazar Getty), e quando ele abre uma porta, a deformação permanece e o ecrã é inundado do vermelho gritante da fantasia que Alice (Patricia Arquette) representa para ele. Capacidade paradoxal esta de chegar ao abstracto de um espaço mental através de um máximo de figuração.