Os formatos da imagem foram mudando ao longo da história do cinema. Mudaram com a introdução da banda-som na película, mas sobretudo com o desenvolvimento de formatos anamórficos em que o rectângulo dos fotogramas era estendido em comprimento na projecção. Um desses formatos, o CinemaScope, é talvez o mais conhecido, com uma proporção de 2.66:1. Foi utilizado pela primeira no filme A Túnica (The Robe, 1953).
Conta-se que o amor de Nicholas Ray pelo Scope nasceu de uma visita que o cineasta fez a Taliesin West em Spring Green, Wisconsin, da autoria do arquitecto Frank Lloyd Wright. Os vãos do edifício recortavam rectângulos alongados da paisagem campestre. Ele apreciou essas imagens, não só como resultado de uma relação única com a natureza, mas também como uma visão intencional e consistente do mundo.
O Scope, na sua grandeza e aparente artificialidade, instala a sensação de que olhar não corresponde a uma postura fixa, mas sim a uma posição que abre espaço para o movimento. É um olhar rasgado até aos objectos periféricos, geneticamente aberto ao múltiplo. Um formato é uma permanência, uma condição material da arte cinematográfica que influencia a construção de universos e o estilo visual de um filme. Jean-Luc Godard disse um dia que se o cinema não existisse, Nicholas Ray tê-lo-ia inventado. Este cineasta foi um dos grandes estetas do Scope como espaço de relações e de composição marcado pela ambiguidade. Obras como Atrás do Espelho (Bigger Than Life, 1956) comprovam-no bem.