A consciência activa da verdade material do filme passa, em muitos casos, pelo trabalho da imagem e do som para que escapem ao logro automático das evidências. No caso de Michelangelo Antonioni, um filme como O Eclipse (L’eclisse, 1962) mostra, precisamente, os poderes concretos do cinema como composição e duração. Os enquadramentos demarcam os corpos no interior das relações espaciais e fazem sobressair o vazio — o mundo como lugar cheio de presenças, mas desabitado. Na cena passada na frenética Bolsa de Roma, é acentuado o peso maciço das colunas. Quando tudo pára para homenagear um colega que morreu de ataque cardíaco, a imagem fixa, suspensa, manifesta a fixidez e a suspensão das personagens, que se movem sem saírem da prisão em que se encontram. É isso que esse momento dá a ver ao estancar o movimento convulso.