Sobre o Silêncio do Mundo

19.06.2018


India Song.

Para Marguerite Duras, primeiro tenta-se escrever até que um dia se começa a escrever. Nos seus textos sobressai uma extrema plasticidade da escrita, a literatura como coisa fátua, uma ironia cortante que parece desfazer o mundo sem o refazer. Escrevia ruínas, uma realidade precária, sem abrigo. Para ela, mais do que uma forma de preservação, a escrita era a consumação do que se vive, um processo de desgaste idêntico ao do tempo que passa. Duras como cineasta era semelhante à Duras como escritora. Basta India Song (1975) para concluir isso. Uma paisagem despovoada ou um arranjo de objectos tornam-se de repente num território interior. É a palavra que abre esse lugar interno, mas poroso. A palavra que recusa ilustrar, que assume a sua espessura humana, que nasce sobre o silêncio do mundo.