Gostava de ter visto outros filmes — Mistérios de Lisboa (2010), por exemplo. No entanto, bastou-me ver os que vi para perceber que 2010 foi um ano de excepção. Às obras da lista em baixo, podia acrescentar Até ao Inferno (Drag Me to Hell, 2009), Entre Irmãos (Brothers, 2009), As Ervas Daninhas (Les Herbes folles, 2009), Ruínas (2009), e Shirin (2008), entre outras. Ainda assim, convém relembrar que a distribuição portuguesa continua a ser marcada por desequilíbrios e decisões difíceis de explicar. O lançamento de uma obra-prima como Fantastic Mr. Fox (O Fantástico Senhor Raposo, 2009), com grandes potencialidades comerciais, directamente em DVD, demonstra-o bem.
No ano passado, o discurso em volta do cinema continuou a centrar-se no 3D, vendido como novidade espectacular. A tecnologia pode fazer brotar a originalidade artística, isto é, uma visão do mundo e da existência distinta, disponível, aberta ao mistério e à complexidade das coisas. Mas a celebração mecânica das proezas tecnológicas tem repetidas vezes envolvido uma rejeição do processo de pensar e sentir verdadeiramente o cinema que cada filme nos propõe, a nível estético e ético. É claro que é preciso filmes que procurem este tipo de resposta dos espectadores. É por isso que os filmes que se seguem merecem atenção, pelo modo como se interessam pelas matérias que convocam, pelo trabalho detalhado das suas formas, e pelo seu sentido de risco.
Bright Star - Estrela Cintilante (Bright Star, 2000), real. Jane Campion
Cópia Certificada (Copie conforme, 2010), real. Abbas Kiarostami
Danse: Le ballet de l’Opéra de Paris, La (2009), real. Frederick Wiseman
Dos Homens e dos Deuses (Des hommes et des dieux, 2010), real. Xavier Beauvois
Homem Sério, Um (A Serious Man, 2009), real. Ethan e Joel Coen
Mágico, O (L’Illusionniste, 2010), real. Sylvain Chomet
Rede Social, A (The Social Network, 2010), real. David Fincher
Scott Pilgrim Contra o Mundo (Scott Pilgrim vs. the World, 2010), real. Edgar Wright
Shutter Island (2010), real. Martin Scorsese
Vencer (Vincere, 2009), real. Marco Bellocchio[1]
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[1] Publicado simultaneamente em “Cinema2000: Balanço 2010 - As Nossas Escolhas”.