Slavoj Žižek (diz-se Jijek) já tem algumas obras traduzidas em português. A sua visita à Cinemateca Portuguesa relembrou-me que a discussão da sua contribuição para o estudo do cinema está a passar ao lado de Portugal. Talvez porque ainda seja cedo. Talvez porque Žižek seja apresentado como simplesmente “fenomenal” — como alguém cujo trabalho não vale a pena ser discutido ou questionado, mas deve ser apenas admirado. Pode ser que a moda passe.
Penso que as suas ideias mais interessantes nada têm a ver com cinema — por exemplo, as suas reflexões sobre a impregnação da ideologia. Mas as suas conclusões são muitas vezes inconclusivas e o seu talento argumentativo é intermitente — ele avança invarialvelmente através da “revelação” de paradoxos e desenvolve os seus pontos de um modo sinuoso. Basta compará-lo com Stanley Cavell — um pensador que também reflecte sobre o cinema que é mais denso, mas também mais frutuoso.
Como lacaniano, Žižek tem criticado abordagens empíricas ao entendimento do cinema. David Bordwell, académico central nesta tendência de procurar validações no estudo estílistico e histórico dos filmes, já lhe respondeu muitas vezes. Eis um ensaio acerca de The Fright of Real Tears: Krzystof Kieslowski Between Theory and Post-Theory (Londres: BFI, 2001) — e não só. É um bom texto, ainda que a espaços demasiado azedo, para iniciar uma abordagem crítica dos escritos e ditos do esloveno: “Slavoj Žižek: Say Anything”.