Apresento hoje uma comunicação como um dos oradores principais do XI Encuentro Ibérico de Estética, a decorrer na Universidade de Salamanca. Agradeço à organização deste encontro—em especial ao Vítor Guerreiro e à Rosa Benéitez Andrés—pela generosidade do convite e pela lucidez com que propôs, como tema comum, um conceito cuja força reside precisamente na recusa de se estabilizar: a ambiguidade.
A minha palestra tem com título “Mundos Ambíguos: Estética do Cinema e a Lógica Irresolvida das Mundivisões.” Nela defendo, com base numa noção ampla de mundivisão, que a ambiguidade pode constituir uma lógica estética e ontológica do cinema: mais do que representar, o cinema faz mundo e dá a experienciar o ser no mundo, convidando uma hermenêutica da experiência que não se resolve no plano da interpretação. Analiticamente, descrevo mecanismos de ambiguidade formal e exploro-os em dois casos: A Árvore da Vida (The Tree of Life, 2011) de Terrence Malick e Honeyland – A Terra do Mel (Medena zemja, 2019) de Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov. Estes são filmes que expressam mundivisões espirituais e ecológicas ambíguas, revelando o divino e o não-humano como dimensões interligadas do sensível.