Amanhã participo com entusiamo no Colóquio João Botelho “Filmo um texto como se fosse um rosto”. A minha comunicação tem o título “Um Adeus Português: Entre o Poema e o Filme” e o seguinte resumo:
O poema “Um Adeus Português” que Alexandre O’Neill escreveu em 1958 dá título ao filme que João Botelho realizou em 1985. O realizador insistiu no título e pediu a permissão do poeta para o usar. A hipótese desta comunicação é a de que todo o poema, e não apenas os dois versos que aparecem no filme, é fundamental para entender o olhar e os temas de Um Adeus Português que encenam um confronto com Portugal como aporia. Não se trata de uma mera adaptação ou até inspiração. Lendo os dois versos que o filme apresenta — “esta pequena dor à portuguesa / tão mansa quase vegetal” — podemos pensar que se trata de meditar sobre uma identidade portuguesa, permanente e imutável, que é desenvolvida criticamente e contestada ao longo do filme. No entanto, o poema é sobre uma época específica da história portuguesa e a opressão que existia no período fascista, levando à apatia e ao confinamento. O poeta sofreu pressões sociais e familiares por causa do seu relacionamento com uma mulher que morava em Paris e essa não terá sido a única situação que o levou a escrever este poema. O filme recupera “Um Adeus Português” em meados da década de 1980 como se quisesse sublinhar que muito permaneceu igual ou foi retirado após o processo revolucionário, mas assumindo a descolagem em relação ao tempo original da composição literária e abrindo uma possibilidade de reflexão sobre vários tempos e espaços da história recente de Portugal.