Saiu o número 6 da Vista: Revista de Cultura Visual, publicada pela SOPCOM - Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação. Foi editado em boa hora por Ana Cristina Pereira, Michele Sales, e Rosa Cabecinhas com o título “(In)Visibilidades: Imagem e Racismo” e pode ser acedido aqui. Inclui um conjunto de artigos que “mais do que dar visibilidade procura-se mostrar o quão invisível permanece uma parte substancial do visível – tornar visível a própria invisibilidade, na impossibilidade de recuperar o que foi sistemática e prolongadamente apagado”, como se pode ler na introdução. Resumi o meu contributo, “O Agora de Outrora: O Cinema de Silas Tiny”, desta forma:
Este artigo analisa a obra do cineasta documental Silas Tiny, nascido em São Tomé e Príncipe, salientando a sua importância no modo como examina criticamente o período do poder colonial português sobre regiões africanas que se libertaram dessa dominação após o 25 de abril de 1974. O argumento principal que emerge da análise das suas duas longa-metragens é o de que o seu cinema documental se constrói a partir de imagens-dialécticas, no sentido que lhe é dado por Walter Benjamin e o seu pensamento crítico. A questão que ocupa Tiny é a da superação da relação temporal entre passado e presente por uma relação dialética entre o que foi (o outrora) e o que é (o agora). Bafatá, na Guiné-Bissau, é filmada pelo realizador em Bafatá Filme Clube (2012) como uma cidade-fantasma, povoada por espectros e aparições de defuntos num local à beira da extinção. O cinema é desta forma assumido como arte espectral que liga o presente ao passado, unindo a memória à ruína. Na obra seguinte, O Canto do Ossobó (2017), Tiny lida com as suas raízes pessoais. É, em simultâneo, um reencontro com São Tomé e um encontro com a sua história — ou talvez seja um encontro com esse lugar e um reencontro com a sua história. Este filme visa descobrir e preservar reminiscências, aquilo que lembra o passado, aquilo que o pode conservar na memória, mas sempre de forma incompleta e indefinida.