O Trabalho das Imagens

29.07.2020


Como é que se costuma dizer? Não há fome que não dê em fartura. Já tinha saído um livro meu este ano, Escrita em Movimento: Apontamentos Críticos sobre Filmes, pela Documenta. Esta semana foi publicado um segundo livro pela Editora Página a Página, O Trabalho das Imagens: Estudos sobre Cinema e Marxismo. É uma obra mais académica, mas não demasiado especializada ou restrita. Já está disponível aqui a preço de lançamento. Esta passagem é da introdução:

Marx e a sua obra não devem ser objecto de idolatria, mas de um trabalho sério e aberto. O socialismo produziu, infelizmente, nalguns casos, cultos não só a dirigentes, mas também ao Estado, promovendo a aceitação do seu poder abusivo e discricionário e a degradação do seu carácter popular. A verdade é que o marxismo não é uma cura para o erro humano, mas dá-nos instrumentos para reconhecermos e corrigirmos esses desvios. Já os chamados pós-marxismo ou neo­‑marxismo, marxismos que surgem com apêndices, são formas de utilizar os contributos de Marx apenas como evocação ou caução para os distorcer, colaborando objectivamente com algumas agendas que nada têm de progressista. Precisamos de desenvolvimentos críticos e criativos no marxismo que partam da obra de Marx para promover a explicação e a transformação do mundo em que vivemos, escapando ao idealismo do pensamento pós-moderno entranhado em muita da crítica cultural contemporânea. O cinema tem contributos a dar e a receber nesse processo.