Objecto e Olhar (1)

07.08.2008


Bom Dia, Noite.


Jimmy Carter: Man from Plains.

Ainda não vi O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008), mas a questão que o Daniel coloca é fundamental e não só a propósito do filme realizado por Christopher Nolan: com que justeza, com que seriedade se trata aquilo que se filma?

Há algum tempo li um pequeno texto sobre o telefilme Agostino d’Ippona (1972) no qual Inácio Araújo escreve que “Rossellini cala para que o santo fale. Limita-se a mostrar. É o que fazem os grandes cineastas”. Estas palavras são um equívoco, ignorando como ignoram a ética e a estética do trabalho de Rossellini em favor de uma impressão do real. Limitar-se a mostrar é radicalmente diferente de dar a ver — e quando o cineasta italiano falou em não manipular a realidade, o objecto, não estava a referir-se ao apagamento do seu ponto de vista, o olhar. Talvez isto seja exactamente o que Inácio quis dizer — mas as suas palavras trairam essa intenção.

Voltando à questão do Daniel. Trata-se da segunda parte de uma pergunta que os cineastas devem fazer e que os espectadores devem depois revisitar: o que filmar e como filmá-lo? As respostas revelam sempre o ponto onde a ética e a estética se cruzam para fazer nascer a arte das imagens em movimento, popular ou erudita. Lembrei-me disto ao ver dois filmes distintos e sérios, Bom Dia, Noite (Buongiorno, notte, 2003) e Jimmy Carter: Man from Plains (2007), uma ficção e um documentário.