Os Lugares da Esperança

02.04.2019


Fogo no Mar.

Na próxima quarta-feira, dia 10, às 18h, apresento uma sessão integrada no Seminário Permanente - Grupo de Investigação sobre Cinema & Filosofia, organizado pelo Instituto de Filosofia da Nova. Dei-lhe o título “Os Lugares da Esperança” e resumi-o assim:

Parto de uma questão genérica: que ligações existem entre uma virtude e um lugar? O tópico central deste seminário será, mais concretamente, a virtude da esperança, que abordarei do ponto de vista da teologia cristã. A esperança é considerada uma das três virtudes teologais — as outras duas são a fé e o amor —, assim chamadas porque têm Deus como origem, motivo, e objecto. Há, portanto, um fundo de incognoscibilidade nestas virtudes que as afastam de uma suposta ciência da moral, porque à sua possível claridade não corresponde a clareza na sua definição. A virtude entendida desta maneira é distinguível da acção moral, na medida em que esta fundamenta e anima tal acção, mas talvez não seja destrinçável dela. Sem acção e sem um lugar onde ela se desenrole, a virtude não pode ser ‘colocada em cena’ no interior da existência humana. Esta relação com a mise-en-scène sugere o interesse em estudar as formas como o cinema contemporâneo tem lidado e dialogado, nos planos temático e figurativo, nas dinâmicas internas do que filma e põe em marcha, com a virtude da esperança, nomeadamente sem excluir a tentação do desespero. Desenvolverei esta reflexão através da análise de dois filmes com diferenças significativas: Luz Silenciosa (Stellet Licht, 2007), realizado pelo mexicano Carlos Reygadas, e Fogo no Mar (Fuocoammare, 2016), realizado pelo italiano Gianfranco Rosi. Luz Silenciosa tem fortes referências religiosas e narra as ramificações de um adultério numa comunidade cristã menonita em Chihuahua. Fogo no Mar pode ser classificado como secular e regista e recria a vida na ilha de Lampedusa, onde muitos refugiados chegam pelo mar. O desafio é discutir a esperança como virtude teologal dentro e fora do âmbito do religioso, questionando a facilidade (ou adequação) de o fazer em relação ao primeiro filme e a dificuldade (ou desadequação) de o fazer em relação ao segundo. Interessa-me, em particular, examinar como estas obras associam a esperança aos lugares e à sua vivência.