Os Segredos dos Lugares

23.07.2018


Através das Oliveiras.

Olhar e registar são actos que captam e traduzem os segredos dos lugares. Pelo menos para quem liga a arte do cinema ao trabalho da memória — a memória com duração, a memória que dura. As imagens em movimento filmadas têm uma relação ontológica com o modelo, como bem viu André Bazin ao analisar criticamente e definir teoricamente o realismo perceptivo no cinema. Os filmes do iraniano Abbas Kiarostami não procedem à redução do irredutível, em vez disso produzem uma relação indissociável entre as realidades espaciais filmadas e as do ecrã. A paisagem é protagonista. As personagens integram-se nela, por vezes até à diluição. Em Através das Oliveiras (Zire darakhtan zeyton, 1994), as presenças humanas têm uma força telúrica. Quando duas personagens, o rapaz que fala demais e a rapariga que não lhe responde, se afastam até ficarem reduzidas a pontos brancos no final de Através das Oliveiras, a distância mantida corresponde à captação e tradução da paisagem como cenário tornado humano e dramático através do lançamento da vista em redor.