Vídeos Musicais e Planos Longos

30.09.2016


“No Surprises” dos Radiohead (1997).

Participo hoje de manhã no encontro internacional O Cinema e as outras Artes na Universidade da Beira Interior. O painel que vou integrar tem como tema as sonoridades no cinema e será moderado por Daniel Tércio. Eis o resumo da comunicação que vou apresentar, sob o título “Vídeos Musicais e Planos Longos”:

No livro Rocking Around the Clock, E. A. Kaplan considera o vídeo musical e a MTV quase como sinónimos. Algo de semelhante pode ser dito sobre a associação entre o vídeo musical e o número elevado de cortes entre planos, com rápidas mudanças na imagem. Mas enquanto a relação entre telediscos e MTV se foi tornando historicamente ultrapassada, a associação entre estas obras e os planos curtos, fugazes, mantém-se como se fosse uma evidência que descreve todos os vídeos musicais. Estes padrões são analisados por Carol Vernallis, que reparou que os cortes no vídeo musical são mais frequentes do que no cinema, podem aparecer como disjuntivos, e têm uma base rítmica intimamente ligada à canção. A montagem, abordagem desenvolvida na década de 1920 na URSS em que as relações, muitas vezes descontínuas, entre planos e imagens são fundamentais, é o tipo de edição a que Vernallis se refere na sua discussão pormenorizada da quantidade elevada de cortes e das suas várias funções. De acordo com ela, estes cortes servem para salientar a estrutura musical, mostrar a estrela, reflectir características experienciais do som, transmitir significado, e até mesmo para construir cadeias visuais suaves.

Há, no entanto, alguns vídeos musicais que não seguem esta convenção e optam, em vez disso, pelo uso diversificado de planos longos. Irei concentrar-me em três aspectos para desenvolver o estudo sobre estes casos. O primeiro é a mobilidade ou imobilidade da câmara, através de “No Surprises” (1997) dos Radiohead, dirigido por Grant Gee. O segundo é a coordenação entre a duração extensa do plano e a performance, através de “The Voice Within” (2004) de Christina Aguilera, realizado por David LaChapelle. O terceiro é o papel dos cortes entre planos longos, através de “This Train Don’t Stop There Anymore” (2002) de Elton John, realizado pelo mesmo LaChapelle.

As obras analisadas atestam que a dimensão visual dos vídeos musicais é construída na relação com outros elementos formais, tais como o comportamento da câmara, a fluidez da performance, e o padrão da edição. Os vídeos que utilizam planos longos, com poucos ou nenhuns cortes perceptíveis e sem uma forma disjuntiva, demonstram assim a complexidade formal e a riqueza de sentido de alguns telediscos.