Glauber Rocha: Fome, Sonho, Estética

11.11.2015


A Idade da Terra (1980).

Apresento hoje à tarde uma comunicação no I Encontro de Cultura Visual, no qual também modero mais tarde o painel “Do Arquivo ao Cinema Documentário”. Este encontro científico é organizado pelo Grupo de Trabalho Cultura Visual da SOPCOM - Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação.

Sob o título “Glauber Rocha: Fome, Sonho, Estética”, o trabalho que vou apresentar desenvolve o seguinte ponto de partida:

“A nossa originalidade é a nossa fome e nossa maior miséria é que esta fome, sendo sentida, não é compreendida.” São palavras do cineasta Glauber Rocha num texto publicado em 1965 sobre aquilo a que chamou estética da fome, uma estética revolucionária na qual a explosão de violência mostra o poder da cultura dos explorados. Seis anos mais tarde, Rocha escreveu outro texto sobre aquilo a que chamou estética do sonho, no qual lemos que a “arte revolucionária deveria não só atuar de modo imediatamente político como também promover a especulação filosófica, criando uma estética do eterno movimento humano rumo à sua integração cósmica.” Neste segundo escrito, o cineasta põe em causa o próprio uso da palavra “estética”: “Hoje recuso falar em qualquer estética. A plena vivência não pode se sujeitar a conceitos filosóficos. Arte revolucionária deve ser uma mágica capaz de enfeitiçar o homem a tal ponto que ele não mais suporte viver nesta realidade absurda.” A palavra é, no entanto, recuperada a partir da obra do escritor argentino Jorge Luis Borges — a sua é, diz Rocha, uma estética do sonho. Também o realizador vê o seu cinema como a arte de um povo que “elabora na mística seu momento de liberdade”. A estética é (re)encontrada, não como conceito filosófico, mas como dilatação da sensibilidade, coincidente com a vida, tal como ela se manifesta no cinema dele. É precisamente esta reelaboração do modo de entender a estética nos dois textos que é o foco deste estudo.