O Cinema como Ética

20.05.2015


Kapò.

O quinto encontro anual da Associação de Investigadores da Imagem em Movimento (AIM) começa oficialmente amanhã, 21, e termina no sábado, 23, no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa. Apresentarei uma comunicação no último dia intitulada “O Cinema como Ética”, uma reflexão a partir de textos de Jacques Rivette, Serge Daney, e José Barata-Moura. Eis o resumo:

A ética tem uma história na filosofia, mas tem também uma história no cinema. Simplificaríamos muito se afirmássemos que a segunda história é um simples produto da primeira. Será, até certo ponto, na medida em que a filosofia foi traçando o amplo campo de pensamento a que chamamos ética, mas a questão no cinema foi-se colocando de modo específico. O tópico teve uma abordagem particularmente penetrante por parte dos críticos-cineastas da Nova Vaga Francesa que se colocava, em simultâneo, nos planos da criação e da fruição. Se o cinema tinha sido antes de mais analisado como estética, aqui o cinema passou a ser abordado também como ética. Segundo este entendimento, a equação da arte só se constitui de forma crítica a partir do cruzamento destas duas dimensões. A revisitação e análise do artigo de Jacques Rivette, “Da Abjecção”, sobre o filme Kapò (1961) permite-nos fixar os termos precisos da discussão — e expressos noutros textos, como a mesa redonda sobre Hiroshima, Meu Amor (Hiroshima mon amour, 1959), na qual Jean-Luc Godard afirmou “O travelling é uma questão moral.” Tal discussão relaciona-se tanto com as escolhas de quem cria como com as respostas de quem frui, mas igualmente com as suas determinações, no emaranhado social e histórico de que fazem parte e na marca de individualidade que protagonizam. Considerar o cinema como ética passa portanto por rejeitar a retórica da ética, mais ou menos moralista, para assumir o cinema enquanto prática.

O programa da conferência e os resumos das comunicações podem ser consultados aqui. Os oradores convidados são Laura Rascaroli (Universidade de Cork), Lúcia Nagib (Universidade de Reading), e Toby Miller (Universidade de Cardiff/Universidade Murdoch).